O juiz olhou pra mim, acenou com a cabeça; olhou para o meu adversário, acenou com a cabeça; então ele apontou para o centro do tatame e iniciou a luta.
Eu tinha 9 anos de idade. Não lembro há quanto tempo eu treinava judô, mas eu era faixa cinza (a segunda). As outras experiências que tive em competições haviam sido jogando futsal pelo time da minha escola, alguns interclasses, mas nada muito sério.
Mas ali, naquele campeonato de judô, eu estava disputando contra atletas do Brasil todo. Meu dojô era do Clube da AABB aqui de SP. Não era um campeonato de escolas, mas de clubes com filiação na federação do esporte. E eu estava prestes a descobrir a diferença.
A luta não durou mais do que 1 minuto. Assim que o árbitro disse “valendo”, aquele menino correu pra cima de mim com uma velocidade e intensidade que eu nunca havia experimentado. Eu literalmente tomei um susto. E, enquanto tentava entender o que estava acontecendo, ele já tinha me jogado no chão duas vezes.
Eu perdi a competição em menos de 1 minuto. Passei o mês todo pensando nesse campeonato, meu primeiro campeonato de judô, e enchi o saco dos meus pais falando disso todos os dias. Acordei cedo, me arrumei, mais de 1 hora de carro até chegar no ginásio e tudo acabou antes mesmo de eu entender o que tinha acontecido.
Essa foi a maior lição que o esporte me ensinou sobre a vida. Não é só sobre estar preparado e ter feito tudo o que devia ter sido feito; ganha aquele que quiser mais.
Apesar de ter apenas 9 anos de idade, lembro de tudo isso como se fosse hoje. Lembro como foi o caminho de volta pra casa, segurando a medalha de plástico de participação. Do olhar de proteção dos meus pais sem saber o que me dizer pra me confortar. Do sentimento de decepção e confusão.
Mas a história não acaba aí, porque depois de um tempo eu voltei a competir. Eu poderia dizer que, depois da primeira experiência, passei a treinar como nunca e mudei completamente minha postura — mas sejamos francos, eu tinha 9 anos de idade, eu me esforcei mais e foi isso.
Mas quando pisei no tatame pela segunda vez, minha mentalidade era outra. Eu sabia que, para eu ganhar, teria que ser ainda mais rápido e mais intenso do que meu adversário da última competição.
Hoje, olhando pra trás, percebo que essa foi a primeira vez na vida que eu estava com “sangue nos olhos”. Eu não queria saber o tamanho ou a faixa do garoto na minha frente; quando aquele juiz dissesse “valendo”, eu não seria surpreendido de novo — dessa vez, eu que iria surpreender.
Fiz 3 lutas nessa competição. Ganhei as 3 por pontuação máxima. Eu acabei com eles. Estava tão focado que, no final da terceira luta, estava indo para a área onde os atletas esperavam a próxima luta e um juiz me chamou: “Ei, onde você tá indo? Já acabou, você ganhou.” — eu nem tinha me tocado da ordem das lutas, só estava focado em não dar chance para ninguém me pegar de novo.
Voltei pra casa com a medalha de ouro, feita de metal, no peito. Eu estava muito feliz e orgulhoso, mas ao mesmo tempo estava aprendendo a lidar com a vitória. O sentimento que eu senti naquele dia é o mesmo sentimento que sinto quando conquisto alguma coisa hoje em dia.
A verdade é que esse sentimento “sangue nos olhos” não é dos mais bonitos. Mais tarde, lendo livros sobre comportamento de atletas e grandes personalidades (Garra, Maestria), entendi que todos aqueles que se colocam em alta performance precisam dessa mentalidade “sangue nos olhos” — porque treinar, todo mundo treina; aptidões físicas, todos têm; mas a vontade de vencer é o que faz a diferença.
Hoje, com 33 anos, continuo vendo isso acontecer todos os dias. Nos negócios, nos projetos, nas decisões diárias. Você pode não vencer sempre, mas sempre que vence, é porque você queria mais que todo o resto. É porque você entrou no tatame disposto a tudo. É porque você olhou no olho do seu adversário e deixou claro: hoje é meu.
Branding Quote
Você não pode perder outra vida além daquela que está vivendo agora, nem pode viver outra vida senão aquela que você está perdendo. (…) Pois você não pode perder o passado nem o futuro; como você pode perder o que não tem?
— Marco Aurélio
Tô ao vivo no YouTube
Semana passada rolou o segundo Análise de Projetos de Design de Marca. E, essa semana tem ao vivo de novo no YouTube. Se você quiser que eu analise seu projeto, se inscreva aqui.
Agenda
→ Terça & quarta-feira, as 08h
Live no Instagram: 🔵 EMBD → Nosso encontro matinal para tirar dúvidas sobre o mercado criativo (não ficará mais gravado)
→ Terça-feira, 19h30
Aula ao vivo no Marcados Ⓜ️: às 19h30 (exclusivo para membros)
→ Quinta-feira, 15h
Ao vivo no YouTube: Análise de Projetos de Design de Marca
→ Qualquer dia da semana
YouTube: dois vídeos semanais
Ótima semana.
Lona.
Uau!!