Eles riram do meu portfólio, até eu contar minha história.
Yuval Harari escreve em seu livro Sapiens sobre a capacidade das histórias na conexão e progresso da espécie humana:
(…) As histórias podem criar entidades novas. De fato, elas podem até criar um nível todo novo de realidade. Até onde sabemos, antes que as histórias surgissem, o universo continha apenas dois níveis de realidade. As histórias acrescentaram um terceiro.
Os dois níveis de realidade que antecederam a narração de histórias são a realidade objetiva e a realidade subjetiva. A realidade objetiva consiste em coisas como pedras, montanhas e asteroides — coisas que existem, quer tenhamos consciência delas ou não. (…)
E há a realidade subjetiva: coisas como dor, prazer e amor, que não estão "lá fora", mas sim "aqui dentro". As coisas subjetivas existem em nossa percepção delas.
Mas algumas histórias são capazes de criar um terceiro nível de realidade: a realidade intersubjetiva. Enquanto coisas subjetivas como a dor existem numa única mente, coisas intersubjetivas como leis, deuses, nações, empresas e moedas existem no nexo entre grande número de mentes. Sendo mais exato, elas existem nas histórias que as pessoas contam umas às outras. A informação que os seres humanos trocam sobre coisas intersubjetivas não representa nada que já existisse antes da troca de informação; pelo contrário, é a troca de informação que cria essas coisas.
Marcas são um tipo de história.
Dar uma marca a um produto, empresa ou pessoa significa contar uma história sobre esse assunto — que pode ter pouca relação com as características do produto, mas que, mesmo assim, aprendemos a associar àquele produto.
Por mais que coisas (realidade objetiva) e sentimentos (realidade subjetiva) pareçam ser o foco da convivência humana, na verdade, tudo o que vivemos diariamente faz parte de alguma narrativa (realidade intersubjetiva).
O que você sente em relação ao seu time de futebol e como isso altera as decisões que você toma na vida são resultados de uma realidade intersubjetiva. Crianças que recebem o nome de atletas, enxovais temáticos do Corinthians ou Flamengo — esses são exemplos da capacidade humana de viver essas realidades inventadas.
Como o autor defende no livro, é justamente essa característica que faz do Homo sapiens o topo da cadeia alimentar. Não porque somos os mais sábios ou fortes, mas porque temos essa capacidade de formar conexões baseadas em histórias.
Agora, o que você faz com essa informação?
Aprenda a olhar para a comunicação como uma forma de criar essa realidade intersubjetiva.
Leve em consideração que tudo é uma fantasia que se conecta à realidade.
Durante muito tempo, tive medo de contar minha história por achar que ela não era boa o suficiente. Eu achava que precisava ser mais do que sou, ou até mesmo um ideal de perfeição — afinal, eu achava que precisava eliminar todas as falhas e vulnerabilidades.
Na verdade, nenhuma história é boa quando tiramos a parte difícil dela. Ninguém se importa com alguém perfeito que não tem dificuldades. As pessoas se conectam nas fraquezas e nas adversidades. É quase impossível não ter empatia por alguém cujas dificuldades você conhece.
Assim como a comunicação de marcas não deve buscar o ideal da perfeição, mas sim a autenticidade, a sua história também deve conter os capítulos reais que fizeram você ser e estar onde está hoje.
E a sua história?
Quais narrativas você tem construído em torno de si?
Quais associações as pessoas fazem ao pensar em você?
Todo designer é um contador de histórias. Por que não fazer o mesmo para si? Toda vez que você deixa de contar sua história, você priva aqueles que precisam de você de te conhecerem — se não for fazer por você, faça por eles. Porque eles precisam de você.
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Todo grande homem é o ator de seu ideal — Friedrich Nietzsche
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Depois de 10 anos estou relendo um clássico da indústria da propaganda e criatividade: as confissões do Seu Ogilvy. Certamente eu não tinha maturidade e experiência para absorver tudo o que estou absorvendo agora, mas ainda que você esteja no início da sua jornada criativa, recomendo a leitura.
Principalmente nos capítulos “como conseguir clientes” e “como manter clientes”.
Agenda
→ Terça-feira, as 08h
Live no Instagram: 🔵 EMBD → Nosso encontro matinal sobre o mercado de design (sem gravação)
→ Quinta-feira, 15h
Ao vivo no YouTube: Análise de Projetos de Design de Marca
→ Qualquer dia da semana
YouTube: dois vídeos semanais
Ótima semana.
Lona