Em 1972, aconteceu uma das reuniões mais improváveis da história: Richard Nixon, presidente dos Estados Unidos, sentou na mesma mesa que Mao Zedong, líder da China comunista.
Dois mundos completamente diferentes.
Dois idiomas, duas culturas, duas ideologias que até então se viam como inimigas.
Essa conversa tinha tudo pra dar errado. Bastava uma palavra fora do lugar, um termo mal interpretado, um gesto lido com o filtro errado — e aquela tentativa de aproximação virava um novo capítulo da Guerra Fria.
No centro dessa reunião estava Chas Freeman, o intérprete oficial da comitiva americana. Mas ele não era apenas fluente em mandarim — ele conhecia profundamente a cultura chinesa, os códigos não ditos, as entrelinhas, os silêncios que falavam mais do que as palavras. Freeman não apenas traduziu frases. Ele traduziu intenções.
Durante as conversas, ele teve que tomar decisões em segundos: suavizar um termo? Manter a firmeza de outro? Adaptar a fala sem trair o conteúdo? Se ele falhasse, um gesto mal interpretado poderia reacender a hostilidade entre dois mundos. Mas ele não falhou.
O que foi lembrado como um marco da diplomacia mundial só aconteceu porque havia ali alguém que sabia escutar um lado, entender o outro e criar uma ponte entre os dois.
Em 2016, eu conheci Chris Do, e o seu trabalho ajudando designers. Comecei a estudar com ele e uma frase se repetia: “Ganhe com sua mente, não com seu tempo. Seja pago para pensar.”
A verdade é que nós, designers, aprendemos a relacionar nosso trabalho — e o valor do que fazemos — com a parte da execução; atrelamos nosso ofício ao manuseio, à criação física, ao desenho, à reprodução gráfica, às horas investidas na criação.
O que o Chris estava me ensinando ali é que o valor do nosso ofício não está no manuseio, mas no planejamento. Design é sobre resolução de problemas, não sobre arte. Embora exista uma parte artística na forma como resolvemos esses problemas (é por isso que é uma disciplina tão foda).
Design de marca é sobre interpretar e traduzir. Pense sobre as marcas que você se identifica e se relaciona. Nunca é sobre o produto em si, mas sobre crenças, ideologias, o “jeito de fazer” — e usamos tudo isso para comunicar algo sobre nós mesmos.
Marcas fortes e relevantes, são aquelas que foram tão claras em comunicar aquilo que acreditam, que se tornam símbolos para as pessoas comunicarem algo sobre elas mesmas.
A verdade é que o maior valor do que fazemos está nas perguntas que escolhemos responder.
Einstein disse: “Se tivesse 1 hora para resolver um problema, passaria 55 minutos buscando a pergunta certa a ser respondida.”
Design é ganhar com nossa mente, não com o nosso punho.
Acho que todo designer deve almejar ter conhecimento específico sobre certas coisas — e ser pago por esse conhecimento singular.
A sensação de ver o seu logo estampado por aí é fantástica; mas você já sentiu o reconhecimento de ser chamado para dar sua visão sobre decisões? Já se viu sentado em uma roda de empresários muito mais experientes que você, e todos estarem te dando o máximo de atenção, aguardando para ouvir o que você tem a dizer?
Não me entenda mal, eu amo fazer design. Mas ser um designer bem-sucedido é muito mais sobre ter seu conhecimento e discernimento reconhecidos do que sobre ser capaz de ligar pontos no Illustrator.
Branding Quote
Marca é tradução. Branding é tradução. Design é tradução.
Extra Curricular
Fui convidado pelo Jesué Tomé para discutir sobre a construção de marcas no Marcas Podcast. Dá uma conferida, e preste atenção, ali é um designer falando sobre marcas fora do nicho de design.
Uma ótima semana,
Lona.
Que início de semana maravilhoso pra quem é do lado azul da força. Tamo junto, Lona. Ótima semana!
Texto muito rico e que me fez refletir bastante. Tu é fera Lona!