Semana passada, tive a oportunidade de tomar um drink com alguns colegas criativos após um evento (Case Conference) aqui em São Paulo.
Entre uma fofoca e outra, comentaram sobre minha newsletter. Quase todos ali presentes disseram que eram inscritos e adoravam os textos, mas... “dava pra perceber que eu usava o GPT por causa dos travessões.”
Nesse momento, tudo mudou.
Todos começaram a rir juntos. Eu, incrédulo. Olhei para o Papito, que estava ao meu lado na ponta esquerda da mesa. Ele ria, mas com pena nos olhos. Olhei para a direita — o resto da mesa em transe coletiva.
Percebi pessoas que nem liam a newsletter dando risada, do tipo: “É, cara, eles te pegaram.”
Ainda sem saber como reagir, esbocei: “Não... mas eu amo o travessão. Uso faz tempo. Comecei a usar por causa de textos gringos...”
Mas logo percebi que de nada adiantaria. Era maior do que minha newsletter, era maior do que meu jeito de escrever — era maior do que eu.
Entendi que essa narrativa já existia. Já tinha virado meme: “travessão é coisa de GPT.”
E, então, o problema deixou de ser minha newsletter e passou a ser: nunca mais vou poder usar travessão?
Sim, eu passei a usar o GPT para revisar meus textos no último ano (a newsletter existe desde 2021). Mas o travessão é meu. Sempre gostei de usar. Inclusive, fui criticado por isso no passado, por pessoas que não entendiam a função dele.
Nenhuma pontuação ou técnica de sintaxe é capaz de reproduzir o efeito de um travessão.
Não existe outra pontuação que represente o grau de dramaticidade que um travessão traz. Além disso, ele é estético — entrega um estilo visual para a escrita.
Eu uso travessão em apresentações, em títulos, subtítulos e até em assinaturas gráficas. É só voltar no meu conteúdo, em todas as plataformas; você vai encontrar nos vídeos, nas legendas, nas descrições, nos projetos, em tudo.
E, pra piorar, na manhã seguinte, tomando café com minha esposa, comecei a contar pra ela:
“Você não acredita. Ontem me disseram que o texto da minha newsletter parece ser escrito pelo GPT porque uso travessão.”
Não deu tempo de eu terminar a frase. Ela, na lata:
“É, amor... travessão é coisa de GPT.”
Eu, incrédulo de novo — desta vez, na minha própria casa.
“Mas pqp, Gabriella, por que você não me disse antes?”
E ela: “Ué... achei que você sabia.”
E agora estou aqui, escrevendo um texto sobre escrever textos.
Perguntei pro chat sobre esse assunto:
O “estigma do travessão”. Bom, sinceramente, eu não sei se o estrago é reversível.
No marketing, costumam dizer que aquilo que mais funciona pra fazer uma pessoa aumentar seu nível de consciência e mudar seu comportamento é: medo, dor ou humilhação social — eu acabei de passar pela terceira.
Por mais que eu adore usar travessão e tenha muito apego ao meu jeito de escrever, é difícil acreditar que esse episódio não vá influenciar minha escrita daqui pra frente — mas pelo menos terei este texto.
*Agora faz o seguinte: volte no texto e tente substituir os travessões que eu usei por pontos, vírgulas ou qualquer outra coisa. Veja se mantém o tom, ritmo e ênfase.
**E me diz, qual sua opinião sobre isso nos comentários?
Pode usar travessão, tá? Não vou achar que você usou GPT por causa disso.
Uma ótima semana.
Lona
Pra quem cresceu lendo livros, indiferente das áreas, etende o quanto o travessão é importante em um texto, entende sua função e sabe exatamente quando usá-lo. Infelizmente me vi nesse movimento de retirar o travessão dos textos que escrevo por medo do conteúdo ser confundido. MAS, a questão que fica é, o que impede que alguém que usa realmente o chat, simplesmente não apague os travessões? Falta análise crítica dos textos, aprofundamento real no contexto do que está escrito. Hype é hype né.
O maior problema é a pessoa não conseguir identificar se tal texto foi ou não escrito por IA.